É doce perder-se nos
cabelos duma mulher.
É como criança a
brincar na lama.
Os lisos nada têm a
esconder, são o que os olhos podem ver: mechas curvadas e brilhosas, um convite
para o desfrute das mãos e dos dedos.
Os crespos – ah os
crespos! – como são rebeldes! A possuidora do cabelo crespo pode compensar a
rebeldia da cabeça com a sutileza de sua personalidade. Já vi por aí, mundo
afora, mulheres de cabelos lisos e mentes crespas.
Cabelo de mulher...
seu cheiro, sua cor, sua forma; que alquimia de prazer!
Há os negros como a
noite. Quando cacheados impõem seu poder de fera indomável.
Há os loiros
angelicais – instrumentos do pecado – e o ruivo diabólico, que faz os olhos
firmarem um pacto com a beleza.
Tantos são os tons da
natureza! Não tão maior que o desejo do amante de mergulhar nos cabelos da
amada.
Cabelo de mulher....
Curto, comprido, não importa.
Um fio somente jogado
no lençol, esquecido no travesseiro, colado contra o peito, diz mais que
qualquer bilhetinho deixado de propósito.
O amor passa, as
bocas se deixam, os corpos se largam e um único fio é capaz de denunciar a
solidão.
André Anacoreta
in
Éramos Eros