domingo, 27 de abril de 2014

segunda-feira, 21 de abril de 2014

bem no fundo




No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
 
 
 
 
Paulo Leminsk

sábado, 19 de abril de 2014

eu sei quando te amo




Eu sei quando te amo:
é quando com teu corpo eu me confundo,
não apenas nesta mistura de massa e forma,
mas quando na tua alma eu me introduzo
e sinto que meu sangue corre em ti,
...e tudo que é teu corpo
é um corpo meu que se alongou de mim.

Eu sei quando te amo:
é quando eu te apalpo e não te sinto,
e sinto que a mim mesmo então me abraço,
a mim que amo e sou um duplo,
eu mesmo e o corpo teu pulsando em mim.







Poemas para a amiga (fragmento 2)
   Affonso Romano de Sant' Anna

sexta-feira, 18 de abril de 2014

presente vivo



Viver
é conjugação diária
do presente.
Viver
é presentear.
Mais do que um jeito de doer
é um modo de doar.

E um presente
mais que um objeto
é o elo entre dois olhos
a floração do gesto
o prateado evento
e o cristalino afeto.

Não se dá
apenas pelo prazer
de ver
o outro receber.

Dá-se
para que o outro
entreabrindo-se ao presente
também dê.
 
 
 
 
Affonso Romano de Sant'Anna
In: Poesia reunida: 1965-1999


domingo, 13 de abril de 2014

Poema de amor para ninguém em especial

 
Cena do filme As Sessões
 
Poema de amor para ninguém em especial

Deixe-me tocá-la com minhas palavras
Pois minhas mãos inertes pendem
como luvas vazias
Deixe minhas palavras acariciarem seu cabelo
deslizar tuas costas abaixo
e brincar em teu ventre
pois minhas mãos,
de voo leve e livre como tijolos
ignoram meus desejos
e teimosamente se recusam a tornar realidade
minhas intenções mais silenciosas
Deixe minhas palavras entrarem em você
carregando lanternas
aceite-as voluntariamente em seu ser
para que possam te acariciar devagarinho
por dentro.



Love poem to no one in particular
Mark O'Brien 

Let me touch you with my words
For my hands lie limp
as empty gloves
Let my words stroke your hair
Slide down your back
And tickle your belly
For my hands,
light and free flying as bricks
Ignore my wishes
And stubbornly refuse to carry out
my quietest desires
Let my words enter your mind
Bearing torches
Admit them willingly into your being
So they may caress you gently
Within
 
 
 
 
Poema de amor para ninguém em especial, de Mark O’Brien, é recitado no filme, 'As sessões'. História real de Mark O'Brien escritor e poeta que, ainda criança, contraiu poliomielite e devido à doença perdeu os movimentos do corpo. Mark escreve o poema para sua terapeuta sexual Cheryl Cohen Greene, uma especialista em exercícios de consciência corporal.

 
 

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