segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sou um menino...



Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.

Nelson Rodrigues

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vou tirar você do dicionário




Vou tirar do dicionário a palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Mudar meu vocabulário e no seu lugar
Vou colocar outro absurdo

Vou tirar suas impressões digitais
Da minha pele
O seu cheiro dos meus lençóis
O seu rosto do meu gosto

Eu vou tirar você de letra
Nem que tenha que inventar
Outra gramática

Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
Com quantos nãos
Se faz um sim

Vou tirar o sentimento do meu pensamento
Sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento a qualquer momento
Procurar outra lembrança

Eu vou tirar
Vou limar de vez sua voz dos meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós
O dito pelo não tido

Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
Com quantos nãos se faz um sim


Vou tirar você do dicionário
Música: Itamar Assumpção
Letra: Alice Ruiz

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Curiosidade Feminal - Parapluie Femme




Curiosidade sobre os guarda-chuvas: Era um símbolo cerimonial no Egito, na China e na Grécia antigos. A data de sua origem é incerta, mas um vaso grego do ano 340 a.C. já mostrava um guarda-chuva. Mais tarde, nos países asiáticos, era usado como proteção contra os raios do sol. No Sião (atual Tailândia), ele era símbolo de posição social. Os japoneses, por sua vez, difundiram seu uso, com variados modelos e lindos desenhos.
No século XVIII, o guarda-chuva foi introduzido na Europa pelo comerciante inglês Jonas Hanway, que demonstrou sua utilidade como proteção contra a chuva. No início, seu uso foi ridicularizado, por ser considerado um objeto feminino.



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vivo me perdendo de vista



Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco-sem-saída.

Clarice Lispector

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Lição de Nasrudin



"Nunca dê as pessoas coisa alguma que peçam, até que ao menos um dia tenha se passado", disse o Mullá.
"Por que não, Nasrudin?"
"A experiência mostra que só dão valor a algo, quando têm a oportunidade de duvidar se irão ou não consegui-la."



sábado, 19 de fevereiro de 2011

Me lambuzo de felicidade




Visito sua boca
doçura,
e me lambuzo
de felicidade.
Deixo-me levar
pelo ritmo do
seu corpo
e sou relva
acariciada
por vento leve
em manhã de
sol e primavera.




Stela Fonseca
Campestre


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Prazer e êxtase



O prazer se
faz em êxtase:
quando o meu corpo,
feito água,
descobre todos os
caminhos do seu.
E deixa-se ficar
onde você
mergulha em mim.


Stela Fonseca





quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Cada pedaço de mim sabe...

 

Cada pedaço de mim sabe o inferno que é
ser sol em noites de chuva,
ser cor nos cinzas dos edifícios,
ser luz na escuridão das manhãs.

Cada todo de ti sabe a delícia que é
ser flor nas asas do vento,
ser cristal nos olhos das fadas,
ser azul no fundo do mar.

Cada suspiro de nós sabe a angústia que é
ser só um na multidão dos dias,
ser muito na pobreza da esquina,
ser ninguém na roda da vida.

Enquanto isso os relógios se vão,
e vêem aqueles que sabem
o que é apenas ser na ausência do nada.



Clarice Lispector

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Não pise na grama





Placa inútil e amarela:
"Não pise na grama."

Amarela
pela ausência de girassóis.

Inútil
porque não tenho os pés no chão.



do livro Tudo pelos ares

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Quem Sonha Mais?





Quem sonha mais, vais-me dizer —
Aquele que vê o mundo acertado
Ou o que em sonhos se foi perder?

O que é verdadeiro? O que mais será —
A mentira que há na realidade
Ou a mentira que em sonhos está?

Quem está da verdade mais distanciado —
Aquele que em sombra vê a verdade
Ou o que vê o sonho iluminado?

A pessoa que é um bom conviva, ou esta?
A que se sente um estranho na festa?



Alexander Search, in "Poesia"

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Soneto de Fidelidade - A mais bela declaração de amor



De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.




Vinícius de Moraes

#

sábado, 12 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ama com leveza...Não te inquiete





Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.

Como se fosses amar.
Sem esperar.
Por não esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Cântico VII - Cecília Meireles

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ausência - Sabe tirar pra dançar?


 Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade

Ausência II - Sabe tirar pra dançar?


Sabe essa falta
dentro do peito
na madrugada?

Essa que Drummond
chamou de ausência
e tirou pra dançar?

Eu não sei dançar com ela.
(Então aperto-a
sinto-a plenamente entre minhas mãos
e deixo cair
o pó de palavras
quente.)



CONS-TATO, do livro NO FIM, COMEÇO

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quando chove, eu chovo...



Quando chove,
Eu chovo,
Faz sol,
Eu faço,
De noite,
Anoiteço,
Tem Deus,
Eu rezo,
Não tem,
Esqueço,

Chove de novo,
De novo, chovo,
Assobio no vento,
Daqui me vejo,
Lá vou eu,
Gesto no movimento.

Paulo Leminski
Profissão de febre

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Esse coração...


As vezes, como agora
ouço bater-me o coração.
Mas em geral
nem lhe presto atenção.

Passo semanas, anos
sem me dar conta
como se essa fosse
dele a profissão.

Lateja independente de mim
meu coração
vivo tão longe dele
ele
pulsando lá por sua conta
eu seguindo minha vida

exceto
é claro
quando desencadeia-se
o amor-paixão.

Aí eu-sou-ele
ele-sou-eu
no mesmo desespero
e glorificação.

Affonso Romano de Sant'Anna
Vestígios

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um novo olhar - Glee

Que tenhamos um novo olhar para com as pessoas portadoras de necessidades especiais.

As Línguas de Sinais não são universais. Cada país possui a sua própria língua de sinais, que sofre as influências da cultura nacional. Como qualquer outra língua, ela também possui expressões que diferem de região para região (os regionalismos), o que a legitima ainda mais como língua.



Imagine não haver o paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum Inferno abaixo de nós
Acima de nós, só o céu

Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine que não houvesse nenhum país
Não é difícil imaginar
Nenhum motivo para matar ou morrer
E nem religião, também

Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Você pode dizer que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia você junte-se a nós
E o mundo será como um só

Imagine que não ha posses
Eu me pergunto se você pode
Sem a necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade dos homens

Imagine todas as pessoas
Partilhando todo o mundo

Você pode dizer que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia você junte-se a nós
E o mundo viverá como um só



IMAGINE - John Lennon
GLEE - Série de televisão de gênero comédia musical, produzido pela Fox
Inspiração para este post: Achados de Decoração

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Amor é síntese








Por favor não me analise,
Não fique procurando cada ponto fraco meu,
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente,
Todo cheio de marcas que a vida deixou.
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese,
É uma integração de dados,
Não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
Ninguém consegue abraçar um pedaço,
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito, amor.



Autoria desconhecida

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Não tenho filosofia, tenho sentidos...




Creio no mundo como um malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...


O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,


Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...



Alberto Caeiro

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Por um lindésimo de segundo




tudo em mim
anda a mil

tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio

tudo pisando macio
tudo psiutudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas




Paulo Leminski
Por um lindésimo de segundo

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Amantes e poetas


Os amantes, em geral,
passam noites inteiras
inquietos e ansiosos
- também eu.

Os amantes, em geral,
choram sobre as cartas,
dão telefonemas aflitos
- como eu.

Os amantes, em geral,
passam horas figurando
o corpo amado,
curvas, gestos, preferências
- como eu.

Os amantes em geral,
são patetas, maus estetas,
fazem versos ruins
e se chamam poetas
- como eu.

 


Affonso Romano de Santana
Os Amantes

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

No fim tu hás de ver...



No fim tu hás de ver que as coisas mais leves
são as únicas que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo, o carinho no momento
preciso, o folhear de um livro, o cheiro que um
dia teve o próprio vento...

Mario Quintana


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