sábado, 30 de abril de 2016

Na vertigem do oceano vagueio





Na vertigem do oceano vagueio
sou ave que com o seu voo se embriaga
Atravesso o reverso do céu e num instante
eleva-se o meu coração sem peso 
 
 
Mia Couto

sexta-feira, 29 de abril de 2016

A leitura dos poetas




Os amantes fariam bem se deixassem um pouco a leitura dos manuais de acrobacia erótica e gastassem mais tempo na leitura dos poetas. Pois somente eles sabem que, para se acariciar o corpo da amada, é preciso acariciar primeiro a luz da estrela distante que brilha nos seus olhos.

Encontra-se aqui, eu penso, a explicação para a morte súbita do amor - mesmo quando nenhum gesto rude e nenhuma palavra amarga tenha sido feito ou pronunciada. Basta não ver a beleza da estrela que mora dentro dos olhos...


Rubem Alves


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Livrai-me




Livrai-me do que desbota a minha lucides e da alienação
 de achar que a felicidade está no outro e não em mim.

 
 
Marla de Queiroz

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Há mulheres que trazem o mar nos olhos




Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma"



Sophia de Mello Breyner Andresen.

domingo, 24 de abril de 2016

o que eu quero



Eu não quero o teu corpo
Eu não quero a tua alma,
Eu deixarei intacto o teu ser a tua pessoa inviolável
Eu quero apenas uma parte neste prazer
A parte que não te pertence



Joaquim Cardozo

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Ah, o sorriso...



 
"Muita coisa que ontem parecia importante ou significativa amanhã virará pó no filtro da memória. Mas o sorriso... Ah, esse resistirá a todas as ciladas do tempo".



Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 21 de abril de 2016

A Vida

 
 
 
A vida, esta vida que inapelavelmente, pétala a pétala,
vai desfolhando o tempo, parece, 
nestes meus dias, ter parado no bem-me-quer …”

 
 
 
José Saramago

sábado, 9 de abril de 2016

São Francisco de Assis - REza em FA




São Francisco do SOL
São Francisco de AsSIs
São Francisco de LA
São Francisco tem DO de mim

Um SOL menor
LA fora
SI espalha

São Francisco do SOL
São Francisco de AsSIs
São Francisco de LA
São Francisco tem DO de mim




Poesia: Alice Ruiz

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Desaprender para aprender






Desaprender para aprender.
Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida.
Basta desaprender o receio de mudar.
Martha Medeiros

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Vive o instante que passa



"Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro." 


Vergílio Ferreira

terça-feira, 5 de abril de 2016

segunda-feira, 4 de abril de 2016

É necessário abrir os olhos





É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver.





Gabriel García Márquez

domingo, 3 de abril de 2016

Extravasei-me


“Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”


Fernando Pessoa,

sábado, 2 de abril de 2016

Quero a fome...



A mim que desde a infância venho vindo,
como se o meu destino,
fosse o exato destino de uma estrela,
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem,
amaria chamar-se Fliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho,
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.


- Adélia Prado, do livro "O Coração Disparado", [em Poesia Reunida], Rio de Janeiro: Editora Siciliano, 1991, pág. 155.
Tempo

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Gozo poético



Gozar é fácil. Qualquer um pode. 
Basta alguma imaginação e boa vontade.
Mas gozo bom, gozo de verdade, é gozo poético, gozo digno.
Aquele gozo de quem goza pelo gozo do outro, pela sua forma.
Gozo poético é gozo de quem olha no olho e sente,
enquanto come corpo, cabeça, olhar.

Porque não se esgota em um meio estético, material.
Come a alma, devora entranhas, mergulha em todos os meios líquidos, deslizando em cada pedaço.
Gozo digno é gozo falado, gozo sentido, gozo gozado. 



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