sábado, 18 de julho de 2015

Espelho Seu

 
 
Quero ser minha pra poder ser sua
Quero nunca mais partir pra longe de mim
Vem, alivia, adianta, adivinha
Quero ser sua pra poder ser minha
 
 
 
Elisa Lucinda

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Fêmea-Fênix


Navego-me eu–mulher e não temo,
sei da  falsa maciez das águas
e quando o receio
me busca, não temo o medo,
sei que posso me deslizar
nas pedras e me sair ilesa,
com o corpo marcado pelo olor
da lama.

Abraso-me eu-mulher e não temo,
sei do inebriante calor da queima
e quando o temor
me visita, não temo o receio,
sei que posso me lançar ao fogo
e da fogueira me sair inunda,
com o corpo ameigado pelo odor
da chama.

Deserto-me eu-mulher e não temo,
sei do cativante vazio da miragem,
e quando o pavor
em mim aloja, não temo o medo,
sei que posso me fundir ao só,
e em solo ressurgir inteira
com o corpo banhado pelo suor
da faina.

Vivifico-me eu-mulher e teimo,
na vital carícia de meu cio,
na  cálida coragem de meu corpo,
no infindo laço da vida,
que jaz em mim
e renasce flor fecunda.
Vivifico-me  eu-mulher.
Fêmea. Fênix. Eu fecundo.


Conceição Evaristo




quarta-feira, 8 de julho de 2015

Da Calma e do Silêncio


Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.


Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.


Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na  aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.



Conceição Evaristo

sexta-feira, 3 de julho de 2015

A felicidade precisa do inútil


A felicidade precisa do inútil. A felicidade é apenas o necessário. Tempere-a com muitos supérfluos. (…) Aceito o bucólico e também a arte em mármore e ouro. A felicidade sozinha é como o pão seco. Come-se, mas não é um jantar. Quero o supérfluo, o inútil, o extravagante, o demasiado, o que não serve para nada. 


Victor Hugo - “Os Miseráveis”.  

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Do fogo que em mim arde

 
 
 
 

Sim, eu trago o fogo,
o outro,
não aquele que te apraz,
ele queima sim,
é chama voraz
que derrete o bico de teu pincel
incendiando até às cinzas
o desejo-desenho que fazes de mim.

Sim, trago o fogo,
o outro,
aquele que me faz
e que molda a dura pena
de minha escrita.
é este o fogo,
o meu, o que me arde
e cunha a minha face
na letra-desenho
do auto-retrato meu.
 
 
 
Conceição Evaristo
 
 
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