sábado, 26 de dezembro de 2015

Ah, a vida...

 
 
"A vida ri-se das probabilidades e põe palavras onde imaginamos silêncios e súbitos regressos quando pensávamos que não nos voltaríamos a encontrar..."

 
José Saramago.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Um dia serei eu




Em todos os jardins hei-de florir,
 Em todos beberei a lua cheia,
 Quando enfim no meu fim eu possuir
 Todas as praias onde o mar ondeia.
 Um dia serei eu o mar e a areia,...
A tudo quanto existe me hei-de unir,
 E o meu sangue arrasta em cada veia
 Esse abraço que um dia se há-de abrir.
  Então receberei no meu desejo
 Todo o fogo que habita na floresta
 Conhecido por mim como num beijo.
 Então serei o ritmo das paisagens,
 A secreta abundância dessa festa
 Que eu via prometida nas imagens.
 
 
 Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Que seja

 
 
Que seja livre, o que chegar...
Que seja doce, o que ficar...
E que seja breve, o que tiver que ir...
 

 Wolfgang Amadeus Mozart

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

VIVA, com letras maiúsculas



Quando quiser ser, seja! Quando quiser ir, vá! Quando quiser voltar atrás, volte! Quando sentir que deve fazer algo, faça! Ninguém sabe melhor do que você o que você tem que fazer, quando tem que fazer e de que jeito tem que ser feito. Vá em frente. viva, com letras maiúsculas."


 Caio F. Abreu

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O fio da realidade

 
Hoje eu ultrapassei
o tênue fio da realidade
e escondi minhas dores na gaveta
E na ponta da caneta
derramei amores...
só porque hoje o dia acordou
com cara de felicidade
 
 
Lou Witt

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Que nunca falte

 

 
“...Que nunca me falte
a estrada que me leva
e a força que me levanta
o amor que me humaniza
e a razão que me equilibra...
o pão de todo dia
e o verso de cada poema..."

 
Lou Witt

domingo, 20 de dezembro de 2015

Hoje, mais do que nunca

 
"Hoje preciso de um poema...
Hoje, preciso de um poema, mais do que nunca.
Que ele seja vitaminado, ...
tufão e ventania, clarão e meio-dia, açúcar e flor-de-maçã.
 
Que ele traga o cheiro de manhã molhada, as virilhas úmidas, o sangue em brasa.
Que lambuze com rimas minha casa, as veias, a pele, este coração inoperante.
 
 Hoje, preciso mais do que nunca de um poema
de boca molhada e verso latejante.”

Flora Figueiredo 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Classificado poético - Ciranda cirandinha




Atenção! Compro gavetas, compro armários, cômodas e baús.
Preciso guardar minha infância, os jogos de amarelinha, os segredos que me contaram lá no fundo do quintal.
Preciso guardar minhas lembranças, as viagens que não fiz, ciranda,
cirandinha e o gosto de aventura que havia nas manhãs.
Preciso guardar meus talismãs, o anel que tu me destes o amor que tu me tinhas e as histórias que eu vivi.

Roseana Murray

domingo, 16 de agosto de 2015

AMARES



Dize-me.
Toca pra mim
Quando sonhares
Canta
E chora
Teus trovares

Fala-me.
Vem pra mim
Quando me olhares
Vem
E fala
Teus chorares

Pede-me.
Voa pra mim
Quando me amares
Voa
E abre
Teus pomares.

© DENISE EMMER

sábado, 18 de julho de 2015

Espelho Seu

 
 
Quero ser minha pra poder ser sua
Quero nunca mais partir pra longe de mim
Vem, alivia, adianta, adivinha
Quero ser sua pra poder ser minha
 
 
 
Elisa Lucinda

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Fêmea-Fênix


Navego-me eu–mulher e não temo,
sei da  falsa maciez das águas
e quando o receio
me busca, não temo o medo,
sei que posso me deslizar
nas pedras e me sair ilesa,
com o corpo marcado pelo olor
da lama.

Abraso-me eu-mulher e não temo,
sei do inebriante calor da queima
e quando o temor
me visita, não temo o receio,
sei que posso me lançar ao fogo
e da fogueira me sair inunda,
com o corpo ameigado pelo odor
da chama.

Deserto-me eu-mulher e não temo,
sei do cativante vazio da miragem,
e quando o pavor
em mim aloja, não temo o medo,
sei que posso me fundir ao só,
e em solo ressurgir inteira
com o corpo banhado pelo suor
da faina.

Vivifico-me eu-mulher e teimo,
na vital carícia de meu cio,
na  cálida coragem de meu corpo,
no infindo laço da vida,
que jaz em mim
e renasce flor fecunda.
Vivifico-me  eu-mulher.
Fêmea. Fênix. Eu fecundo.


Conceição Evaristo




quarta-feira, 8 de julho de 2015

Da Calma e do Silêncio


Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.


Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.


Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na  aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.



Conceição Evaristo

sexta-feira, 3 de julho de 2015

A felicidade precisa do inútil


A felicidade precisa do inútil. A felicidade é apenas o necessário. Tempere-a com muitos supérfluos. (…) Aceito o bucólico e também a arte em mármore e ouro. A felicidade sozinha é como o pão seco. Come-se, mas não é um jantar. Quero o supérfluo, o inútil, o extravagante, o demasiado, o que não serve para nada. 


Victor Hugo - “Os Miseráveis”.  

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Do fogo que em mim arde

 
 
 
 

Sim, eu trago o fogo,
o outro,
não aquele que te apraz,
ele queima sim,
é chama voraz
que derrete o bico de teu pincel
incendiando até às cinzas
o desejo-desenho que fazes de mim.

Sim, trago o fogo,
o outro,
aquele que me faz
e que molda a dura pena
de minha escrita.
é este o fogo,
o meu, o que me arde
e cunha a minha face
na letra-desenho
do auto-retrato meu.
 
 
 
Conceição Evaristo
 
 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

AVISO


 
Não te abandones um só momento
sou inconstante como a nuvem
sou mutável como o vento.

Não te dês inteiro um só momento
porque um dia te quererás de volta
e levarás somente um fragmento.


Olga Savary

quarta-feira, 24 de junho de 2015

QUERO APENAS






Além de mim, quero apenas
essa tranquilidade de campo de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.

Além de mim
— e entre mim e meu deserto —
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto do meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha.




Olga Savary

domingo, 14 de junho de 2015

Fanatismo



Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist'rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!...

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade" (1923)

Obs: 
Fagner canta poema de Florbela Espanca no disco "traduzir-se"


sábado, 13 de junho de 2015

Não Digas Nada!

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Dorme Sobre o Meu Seio

 
Dorme sobre o meu seio,
Sonhando de sonhar...
No teu olhar eu leio
Um lúbrico vagar.
Dorme no sonho de existir
E na ilusão de amar.

Tudo é nada, e tudo
Um sonho finge ser.
O ‘spaço negro é mudo.
Dorme, e, ao adormecer,
Saibas do coração sorrir
Sorrisos de esquecer.

Dorme sobre o meu seio,
Sem mágoa nem amor...

No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

terça-feira, 9 de junho de 2015

Frémito do Meu Corpo a Procurar-te

Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

segunda-feira, 8 de junho de 2015

A Tua Voz de Primavera

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo desejo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

domingo, 7 de junho de 2015

Que importa?...

Eu era a desdenhosa, a indif'rente.
Nunca sentira em mim o coração
Bater em violências de paixão
Como bate no peito à outra gente.

Agora, olhas-me tu altivamente,
Sem sombra de Desejo ou de emoção,
Enquanto a asa loira da ilusão
Dentro em mim se desdobra a um sol nascente.

Minh'alma, a pedra, transformou-se em fonte;
Como nascida em carinhoso monte
Toda ela é riso, e é frescura, e graça!

Nela refresca a boca um só instante...
Que importa?... Se o cansado viandante
Bebe em todas as fontes... quando passa?...

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

sábado, 6 de junho de 2015

Volúpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Onde

 
Onde os olhos se fecham; onde o tempo
Faz ressoar o búzio do silêncio;
Onde o claro desmaio se dissolve
No aroma dos nardos e do sexo;
Onde os membros são laços, e as bocas
Não respiram, arquejam violentas;
Onde os dedos retraçam novas órbitas
Pelo espaço dos corpos e dos astros;
Onde a breve agonia; onde na pele
Se confunde o suor; onde o amor.
 
JOSé SARAMAGO
In Provavelmente Alegria, 1987

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Adivinha

Quem se dá quem se recusa
Quem procura quem alcança
Quem defende quem acusa
Quem se gasta quem descansa

Quem faz nós quem os desata
Quem morre quem ressuscita
Quem dá a vida quem mata
Quem duvida e acredita

Quem afirma quem desdiz
Quem se arrepende quem não
Quem é feliz infeliz
Quem é quem é coração
© JOSÉ SARAMAGO
In Os Poemas Possíveis, 1966

terça-feira, 5 de maio de 2015

Aspa


Sobre o leito desmanchado te derrubo,
Onde atiças o desejo que acendi.
À glória do teu corpo, de mim, subo:
Não cantam anjos, mas do céu bem perto,
De um suor de agonia recoberto,
Tudo se cumpre na aspa que escolhi.
© JOSé SARAMAGO
In Os Poemas Possíveis, 1966

quarta-feira, 15 de abril de 2015

e para grandes ocasiões...


 
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor:
uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros;
uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma;
por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas.

 
Paulo Mendes Campos

quinta-feira, 9 de abril de 2015

pra rua me levar






"Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora
Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender...”

Composição: Ana Carolina / Totonho Villeroy

terça-feira, 7 de abril de 2015

desejos



Há duas tragédias na vida: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, a outra a de os satisfazermos.



Oscar Wilde

domingo, 5 de abril de 2015

doida demais



A diferença entre o doido e o não-doido é que o não doido não diz e nem faz as coisas que pensa.


Clarice Lispector

sexta-feira, 3 de abril de 2015

meus defeitos




Sou bem diferente, sou, das outras mulheres todas. Eu quero antes os meus defeitos que as virtudes de todas as outras.



Florbela Espanca

sexta-feira, 20 de março de 2015

O tempo não importa

 

 
 
Na convivência, o tempo não importa.
Se for um minuto, uma hora, uma vida.
O que importa é o que ficou deste minuto,
desta hora, desta vida…
Lembra que o que importa
… é tudo que semeares colherás.
Por isso, marca a tua passagem,
deixa algo de ti,…
do teu minuto, da tua hora,
do teu dia, da tua vida.


Mário Quintana

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Que me saiba perder...






Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Florbela Espanca

domingo, 4 de janeiro de 2015

Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos



Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos...

Os meus sonhos agora são mais vagos...
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno...
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu Amor, quer vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!... 



Florbela Espanca
O Nosso Mundo 
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