Quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejeiras.
Pablo Neruda
Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce.Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo;repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.
Quando fui ferida,por Deus, pelo Diabo, ou por mim mesma,- ainda não sei -percebi que não morrera, após três dias,ao rever pardaise moitinhas de trevo.Quando era jovem,só estes passarinhos,estas folhinhas bastavampara eu cantar louvores,dedicar óperas ao Rei.Mas um cachorro batidodemora um pouco a latir,a festejar seu dono- ele, um bicho que não é gente -tanto mais eu que posso perguntarPor que razão me bates?Por isso, apesar dos pardais e das reviçosas folhinhasuma tênue sombra ainda cobre meu espírito.Quem me feriu perdoe-me.
Vem navegar na minha vida
Faça de conta que meu corpo é um rio,
Faça de conta que os meus olhos são a correnteza,
Faça de conta que meus braços são peixes
Faça de conta que você é um barco
E que a natureza do barco é navegar.
E então navegue, sem pensar,
Sem temer as cachoeiras da minha mente,
Sem temer as correntezas, as profundidades.
Me farei água clara e leve.
Para que você me corte lenta, segura,
Até mergulharmos juntos no mar
Que é nosso porto.