Quando fui ferida,por Deus, pelo Diabo, ou por mim mesma,- ainda não sei -percebi que não morrera, após três dias,ao rever pardaise moitinhas de trevo.Quando era jovem,só estes passarinhos,estas folhinhas bastavampara eu cantar louvores,dedicar óperas ao Rei.Mas um cachorro batidodemora um pouco a latir,a festejar seu dono- ele, um bicho que não é gente -tanto mais eu que posso perguntarPor que razão me bates?Por isso, apesar dos pardais e das reviçosas folhinhasuma tênue sombra ainda cobre meu espírito.Quem me feriu perdoe-me.
A cólera divina
Adélia Prado, do livro "O Pelicano",
[em Poesia Reunida], Rio de Janeiro: Editora Siciliano, 1991, p. 338.
Nenhum comentário:
Postar um comentário