domingo, 28 de agosto de 2016

Cabelo de mulher





É doce perder-se nos cabelos duma mulher. 
É como criança a brincar na lama.
Os lisos nada têm a esconder, são o que os olhos podem ver: mechas curvadas e brilhosas, um convite para o desfrute das mãos e dos dedos.

Os crespos – ah os crespos! – como são rebeldes! A possuidora do cabelo crespo pode compensar a rebeldia da cabeça com a sutileza de sua personalidade. Já vi por aí, mundo afora, mulheres de cabelos lisos e mentes crespas.

Cabelo de mulher... seu cheiro, sua cor, sua forma; que alquimia de prazer!
Há os negros como a noite. Quando cacheados impõem seu poder de fera indomável.

Há os loiros angelicais – instrumentos do pecado – e o ruivo diabólico, que faz os olhos firmarem um pacto com a beleza.
Tantos são os tons da natureza! Não tão maior que o desejo do amante de mergulhar nos cabelos da amada. 

Cabelo de mulher.... Curto, comprido, não importa.
Um fio somente jogado no lençol, esquecido no travesseiro, colado contra o peito, diz mais que qualquer bilhetinho deixado de propósito.

O amor passa, as bocas se deixam, os corpos se largam e um único fio é capaz de denunciar a solidão.





André Anacoreta
 in Éramos Eros

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