segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Caixa de costura


Venho costurando minha vida

com linhas de saudade.

Procuro equilibrar-lhes a cor

para que o resultado final não seja triste.

Por vezes, é o cinza que insiste;

por vezes, impera o marrom.

Ainda bem que tem saudade bonita;

mudo o tom, amarro fitas,

busco a outra ponta do novelo;

intercalo a trama em amarelo.

 A saudade é assim mesmo,

 tecelã do tempo.

 Quando menos se espera,

 arremata o momento, leva embora,

 deixa a porta encostada, o cadarço de fora,

 e nunca avisa a hora de voltar.

Ainda hei de costurar com verde florescente

 e, se a saudade chegar autoritariamente,

 vai se sentir enfraquecida.

Enquanto procuro a cor,

 vou costurando a vida,

 sem saber qual vai ser o resultado.

Caso ele não fique combinado,

dou um nó, encosto agulha, guardo a linha,

que essa culpa roxa não é minha.

É uma artimanha branca do passado.


Flora Figueiredo


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