domingo, 4 de outubro de 2020

A meus filhos



Estou aqui ao lado,

à margem de seu caminho,
vendo você passar.


Quero que vá sozinho
mas me mantenho por perto.
Se o rumo é certo,
me aprumo e aplaudo;


se é via tortuosa,
jogo-lhe aos pés uma rosa
pra que desviando dela
você chegue a outro lugar;


se a sombra é fria,
mando-lhe um beijo quente;


se o chão queima do sol nascente,
estendo-lhe a poesia
para que o possa atenuar,


se não houver alimento,
peço ao vento
sementes que lhe tragam vida.


Para a sede,
roubo do céu a lágrima caída da madrugada.


Mas se você não precisar de nada,
ainda assim eu estarei vigiando,
escondida talvez atrás de um querubim.
Abençoarei sua vida e sua estrada,
mesmo que já esteja transformada
na forma clara e casta de um jasmim.


Flora Figueiredo, Florescência



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