quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Sim, tudo é certo logo que o não seja



Sim, tudo é certo logo que o não seja,
Amar, teimar, verificar, descrer
Quem me dera um sossego à beira-ser
Como o que à beira-mar o olhar deseja.


20-1-1929
Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Sossega, coração! Não desesperes!



Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
2-8-1933
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa.
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