domingo, 29 de novembro de 2009

Os evangelhos: do Prazer e da Alegria

Rubem Alves escreve sobre a diferença entre prazer e alegria - Ambos muito bons. E estas são suas conclusões.

Sobre o prazer:
1- O prazer só acontece se o corpo tiver a posse do seu objeto. O prazer do sorvete só existe se houver um sorvete a ser lambido. o prazer do suco de pitanga só existe se houver suco de pitanga para ser bebido. O prazer do beijo só existe se houver a pessoa amada a ser beijada.
2- O prazer se farta logo. Quantos sorvetes sou capaz de tomar antes que ele se transforme de objeto de prazer a causa de sofrimento? quantos copos de suco sou capaz de tomar antes que o corpo diga: "Não agüento mais!"? Quantos beijos se pode dar antes de enjoar? O prazer tem vida curta. O evangelho do prazer reza:
"Bem aventurados os que têm fome porque serão fartos".

Sobre a alegria:
1- A alegria não precisa da posse do objeto desejado para existir. Lembro-me do rosto de um amigo - ele já morreu -, mas esta simples memória me traz alegria. Sentimos alegria lendo uma obra de ficção, um objeto que nunca existiu pode nos dar alegria. Que seres estranhos nós somos, capazez de nos alegramos comendo frutos inexistentes!
2- A alegria nunca se farta. A alegria pede mais alegria. Alegria é fome insaciável. Da alegria nunca se diz: "Estou satisfeito!" "Chega!" O evangelho da alegria é diferente do evangelho do prazer:
"Bem-aventurados os que têm fome porque terão mais fome"

Mas, vez por outra, a alegria e o prazer acontecem juntos. Quando isso acontece o corpo experimenta uma efêmera epifania do Paraíso: o divino se faz carne...
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Texto: Rubem Alves - Livro sem Fim
Imagem: Magritte
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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Melhor do que ser boazinha...


A todos trato muito bem
sou cordial, educada, quase sensata,
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
expulsa do paraiso
uma mulher sem juízo, que não se comove
com nada
cruel e refinada
que não merece ir pro céu, uma vilã de novela
mas bela, e até mesmo culta
estranha, com tantos amigos
e amada, bem vestida e respeitada
aqui entre nós
melhor que ser boazinha é não poder ser imitada.



Obs: Para minha queridíssima amiga Madá, garota que tem cara de boazinha... E que também não pode ser imitada.
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Uma alegria para sempre


As coisas que não conseguem ser
Olvidadas continuam acontecendo.

Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se –
depois de tudo - tenha "ela" partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.

Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte de tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Gotinhas de Humor - Ócio Criativo

Uma dica preciosa para quando se está aborrecido e sem nada para fazer, é seguir o passo a passo:

1 - Mate umas moscas, mas com cuidado;
2 - Deixe ao sol por uma hora, para secar;
3 - Recolha o fruto do seu trabalho (mosquinhas secas);
4 - Pegue lápis e papel... E deixe a imaginação fluir.














Esta idéia super criativa está no Dide News.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Perdão e a Promessa


Se não fôssemos perdoados, eximidos das conseqüências daquilo que fizemos, a nossa capacidade de agir ficaria por assim dizer limitada a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos; seríamos para sempre as vítimas das suas conseqüências, à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço.

Se não nos obrigássemos a cumprir as nossas promessas não seríamos capazes de conservar a nossa identidade; estaríamos condenados a errar desamparados e desnorteados nas trevas do coração de cada homem, enredados nas suas contradições e equívocos.

Ambas as faculdades, portanto, dependem da pluralidade; na solidão e no isolamento, o perdão e a promessa não chegam a ter realidade: são no máximo um papel que a pessoa encena para si mesma.


Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Classificados Poéticos


"Classificados Poéticos" livro de Roseana Murray, baseia-se no formato tradicional do classificado do jornal. Está procurando algo? Quer vender ou trocar? Não perca esta oportunidade, anuncie!


OPORTUNIDADE
Troco um fusca branco
por um cavalo cor de vento
um cavalo mais veloz que o pensamento
Quero que ele me leve pra bem longe
e que galope ao deus-dará
que já me cansei deste engarrafamento...

ACHADOS E PERDIDOS
Perdi maleta cheia de nuvens e de flores,
maleta onde eu carregava
todos os meus amores embrulhados
em neblina.
Perdi essa maleta em alguma esquina
e algum sonho
e desde então eu ando tristonho
sem saber onde pôr as mãos.

Se andando pelas ruas
você encontrar a tal maleta,
por favor, me avise em pensamento
que eu largo tudo e vou correndo...


IMPERDÍVEL!
Vende-se uma casa encantada
no topo da mais alta montanha.
Tem dois amplos salões
onde você poderá oferecer banquetes
para os duendes e anões
que moram na floresta ao lado.
Tem jardineiras nas janelas,
onde convém plantar margaridas.

Tem quartos de todas as cores
que aumentam ou diminuem
de acordo com o seu tamanho
e na garagem há vagas
para todos os seus sonhos.


PROCURA-SE
Procura-se algum lugar no planeta
onde a vida seja sempre uma festa
onde o homem não mate
nem bicho nem homem
e deixe em paz
as árvores da floresta.

Procura-se algum lugar no planeta
onde a vida seja sempre uma dança
e mesmo as pessoas mais graves
tenham no rosto um olhar de criança.

Classificados Poéticos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1984


domingo, 8 de novembro de 2009

O Permanente e o Provisório.


O casamento é permanente, o namoro é provisório.
O amor é permanente, a paixão é provisória.
Uma profissão é permanente, um emprego é provisório.
Um endereço é permanente, uma estada é provisória.
A arte é permanente, a tendência é provisória.
De acordo? Nem eu.

Um casamento que dura 20 anos é provisório. Não somos repetições de nós mesmos, a cada instante somos surpreendidos por novos pensamentos que nos chegam através da leitura, do cinema, da meditação. O que eu fui ontem, anteontem, já é memória. Escada vencida degrau por degrau, mas o que eu sou neste momento é o que conta, minhas decisões valem pra agora, hoje é o meu dia, nenhum outro.
(...)
Um endereço não é pra sempre, uma profissão pode ser jogada pela janela, a amizade é fortíssima até encontrar uma desilusão ainda mais forte, a arte passa por ciclos, e se tudo isso é soberano e tem valor supremo, é porque hoje acreditamos nisso, hoje somos superiores ao passado e ao futuro, agora é que nossa crença se estabiliza, a necessidade se manifesta, a vontade se impõe - até que o tempo vire.
(...) e não perco a fé por constatar o óbvio:
tudo é provisório, inclusive nós.


Texto: Martha Medeiros
Imagem: Magritte
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Curiosidade literária - Acentos Gramaticais


Como foram inventados os acentos gramaticais?

Os acentos gramaticais foram criados por Aristófanes de Bizâncio, o primeiro bibliotecário da Biblioteca de Alexandria, alguns séculos antes de Cristo. Foi na língua grega que ele introduziu tanto os acentos quanto sinais de pontuação, que posteriormente seriam assimilados pelo latim. Principalmente entre os religiosos, estes artifícios tiveram grande aceitação e foram amplamente empregados, pois permitiram que se estabelecesse entonações específicas nos cantos bíblicos.


Fonte: Guia dos curiosos - Marcelo Duarte
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Os 10 direitos do leitor



Daniel Pennac, escritor Frances, autor do livro “Como um romance”, lança um manifesto contra a obrigação de ler. Acredita que, se houvesse alguma liberdade no ato de ler, mais estudantes desenvolveriam o gosto pela leitura.

Os 10 direitos do leitor são:

1. O direito de não ler.
2. O direito de pular páginas.
3. O direito de não ler um livro inteiro, até o final de capa a capa.
4. O direito de reler , quantas vezes quiser.
5. O direito de ler qualquer coisa, não importa o quê.
6. O direito de acreditar nos livros, a quem sabe até ao bovarismo*, uma doença "textualmente transmissível".
7. O direito de ler em qualquer lugar, não importa onde.
8. O direito de ler uma frase aqui e outra ali, pulando de livro em livro.
9. O direito de ler em voz alta e de contar histórias.
10. O direito de não falar do que leu.


Bovarismo
s. m. (fr. bovarysme; ing. bovarism). Tendência patológica para se idealizar, para se identificar com uma personagem que se admira ou que se inveja a qualquer título (pela sua fortuna, pela sua importância, pela sua posição social, etc.). Ling.: Segundo Madame Bovary, romance de Gustave Flaubert.


O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque se sabe mortal. Ele vive em grupo porque é gregário, mas lê porque se sabe só. Esta leitura é para ele uma companhia que não ocupa o lugar de qualquer outra, mas nenhuma outra companhia saberia substituir... Nossas razões para ler são tão estranhas quanto nossas razões para viver. E a ninguém é dado o poder para pedir contas dessa intimidade.
Daniel Pennac


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