É que só sei ser impossível, não sei mais nada.
Que é que faço para conseguir ser possível?
Que é que faço para conseguir ser possível?
Clarice Lispector
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Autor: Alexandre O'Neill - poeta português
Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.
Texto: Adriana Falcão
Imagem: Helga Rodrigues
Para bebê, colo de mãe.
Para mãe, riso de filho.
Para os cabelos, vento.
Para chuva, pára-brisa.
Para brisa, rede.
Para os olhos, paraísos.
Para isolados, visita.
Para visita, atenção.
Para teimosia, não.
Para adolescente, chão.
Para adulto, ser criança.
Para sobreviver, trabalho.
Para trabalho, pagamento.
Para pobreza, justiça.
Para cima, elevador.
Para baixo, tobogã.
Para casados, liberdade.
Para solteiros, companhia.
Para companhia, uma boa pessoa.
Para pessoas em geral, alegria.
Para coisas, nomes.
Para menina, cor-de-rosa.
Para flor, um regador.
Para dor, anestesia.
Para prazer, suspiros.
Para as mãos, apertos.
Para os pés, descanso.
Para o cansaço, sono.
Para mertiolate, sopro.
Para agonia, calma.
Para a alma, céu.
Para um corpo, outro.
Para a boca, beijo.
E comida para todos.