terça-feira, 31 de agosto de 2010

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém,
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte delira

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte se espanta

Uma parte de mim
é permante;
outra parte
se sabe de repente

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Obs: Este poema me fez lembrar minha amiga Madá, querida e intraduzível que assim se apresenta em seu Linguagem, imagem, bobagem: "No dia em que eu conseguir me definir... Terei eu deixado de brincar com as palavras.".


Poema de Ferreira Gullar

2 comentários:

Madá Vertelo disse...

Que tamanha faceirice!
Que tamanhã gentileza!
Uma parte de mim sou eu,
a outra parte minhas amigas;
com as quais aprendo a me (re)criar...

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Elayne. Interessante poema, pois que somos dicotomia e vivemos constantemente na dualidade do sim e do não. Beijos.

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