sábado, 17 de outubro de 2009

Cativar amigos

Conversa entre a raposa e o principezinho:

Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços...”
- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca como se fosse música. E depois olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! Disse ela
- Bem quisera, mas eu não tenho muito tempo. Disse o principezinho. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.



Trecho do livro: O Pequeno Príncipe
Cap. XXI – Antoine de Saint-Exupéry
47. ed. – Rio de Janeiro:Agir,1998

Imagem: Ceó do frasesilustradas.com
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4 comentários:

Solange Maia disse...

Meu pequeno príncipe me acompanha desde a infância... agora leio-o para minha filha... mas é uma história tão infantil quanto adulta.

amo.

Belo post.

beijao

QUIM disse...

Muito bonita esta fábula... há também uma, muito interessante, na nossa tradição que é totalmente o inversso desta!!! beijinhos Elayne, bom fim de semana.
http://sotaodaines.chrome.pt/Sotao/histor9.html

Antonio Coni Neto disse...

Que lindo!
Quando cativamos o outro começamos a fazer da relação um encontro. E quanto mais cativamos poderemos experimentar nesta relação a verdade tantas vezes dita: "Somos todos um".
Beijos cativantes,

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Elayne. Foi muito bom estar com você estes dias. Obrigada pela companhia. Beijos.

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