quinta-feira, 26 de março de 2009

Mãe desnecessária


A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase e sempre soou-me estranha. Até agora. Agora que minha filha adolescente, aos quase 18 anos, começa a dar vôos-solo. Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara: Se eu fiz o meu Trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.

Ser desnecessária é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes...

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam, é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.

Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão. Ao aprendermos a ser desnecessários, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.


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Um comentário:

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Elayne, concordo plenamente com o conteúdo do texto, intelectualmente, porque no fundo, sei que toda mãe, por mais liberal e consciente do sentido de liberdade, ainda quer os filhos sob suas "asas". Outro dia estava lendo um livro, não me lembro qual, que falava de um caso que muito me sensibilizou porque me vi e à minha filha naquele contexto. Tratava-se de uma mensagem de uma mãe para o filho. Ela explica ao filho que os dois, por serem tão unidos, precisavam aprender a lição da separação. A ligação dos dois era muito antiga, já vinha de várias vidas e sem fundamentos cármicos negativos. Os dois então, começaram a desvirtuar a ligação espiritual, criando dependência mútua. Por isto, mereceram a dor da separação. Eles tiveram que se separar para aprender a verdadeira razão das ligações espirituais. É por aí: todos somos livres, devemos nos amar, nos respeitar, nos apoiarmos, mas sem prender o outro, sem ter o sentimento de posse. Este é o verdadeiro amor.

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